
-Não! Você não está nessa cama as duas da tarde. Levanta, toma um banho e vamos sair.
-Ir pra onde? Não tem lugar para ir e tô sem vontade. Me deixa, tô cansada.- respondi
-Cansada o caramba! Sua mãe disse que você tá nesse quarto mais de doze horas. Você vai por votade própria ou por livre e espontânea pressão?
Com nenhuma vontade me levantei. Eu estava muito desanimada e não queria sair do quarto tão cedo. Estava com a vontade de colocar minha meia calça rosa e aqueles óculos ridiculos que caiam perfeitamente no meu rosto. Mas só vontade!
Tomei um banho bem lentamente, lavando cada parte com paciência como se não tomasse banho há meses só para ver se minha amiga ia embora. É, ela não foi.
Ela esperou pacientemente eu me vestir e mudar o penteado cinco vezes. No fim acabei deixando-o solto. Fácil para o vento se misturar.
O banho me deu vontade de caminhar. Me senti leve e animada.
Não fazia idéia de onde estavamos indo. Em vinte anos morando no mesmo lugar não havia passado por aquele caminho. Tinha muito mato e flores, era lindo!
A cada quilômetro iamos subindo mais e achavamos mais mato.
-Vai me matar é? Onde você tá indo? -perguntei
-Relaxa! Vamos viver um pouco!
Olhei para o banco atrás e tinha uns equipamentos que só havia visto por televisão.
-Você vai me matar sim! Que isso aqui?
-Háháháháhá! Já disse. Vamos viver.
Mais meia hora de carro ela parou. Tinha um homem lá esperando.
Ele nos ajudou a tirar aquelas bagagens do carro e ajudou minha amiga a vesti-los.
-Chega desse desânimo. A vida é uma só e sei que tem vontade de fazer isso. Pensa nos seus problemas com calma, um por um enquanto vai vestindo nosso brinquedinho de hoje a tarde. - ela me disse.
Quando me dei conta do que era os objetos de "assassinato" quase fiquei louca. Era o meu maior sonho fazer aquilo, só não imaginava que a minha amiga louca me faria isso. Obedeci e pensei em todos os meus problemas enquanto me vestia. Quando terminei ela continuou.
-Agora me responde: vale a pena perder a cabeça por eles? Vale a pena ficar num quarto remoendo tudo? Vale a pena parar de viver por causa de bobeiras que não leva a vida pra frente?
Dei as costas para ela e disse:
-Não!
Quando me virei ela tinha se jogado. Era muito alto e dava medo, não sei como ela teve coragem! Ouvi ela gritar
-Viva! Sinta! Se jogaaaaa!
Não pensei duas vezes! Me joguei também! Era a melhor sensação que já senti. Eu era livre, sem problemas, só olhando a paisagem que Deus criou para nós e sentindo o vento em meu rosto. Chegando lá embaixo a amiga louca veio ao meu encontro toda euforica.
-Valeu a pena?
-Se valeu? Com certeza! Precisamos voar de asa delta de novo.
-Pelo menos o dinheiro das aulas o ano passado não foi a toa!
"...o mundo pertence a quem se atreve. E a vida é muito para ser insignificante." Charles Chaplin
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