quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Abrindo os olhos


Com os olhos abertos e com um silêncio que apenas ele escutava, ali deitado no chão como se estivesse descansando da vida sofrida que teve quando criança.
Infelizmente a unica coisa que ele poderia despertar era o olhar que já não se descansava, não dormia, não se fechava, não se movia, nada... nenhuma reação, apenas o sangue deslizando muito devagar como se fosse um vinho escorrendo numa mesa torta.
Estava tudo tão quieto, que nem o som do relógio batendo a meia-noite a incomodava. O único som que ela ouvia era de seu coração batendo e seu pensamento inquieto. Pensava em como tudo aconteceu e como teve coragem de cortar a garganta de seu próprio amor.
Talvez saiba como, mas não quer acreditar.
Apenas uma briga de várias que poderia vir, uma única briga que muda o sonho de ser feliz com ele pela eternidade.
E pensar que a eternidade chegou tão rápido.
A menos de dois meses eles se casaram com vários sonhos, sonhos que agora não valem de nada, sonhos que agora escorregam entre as fendas do assoalho da casa que ele comprou e que eles viveriam juntos.
Com um som na porta em breves batidas, as suas mãos param de tremer e ficam imóveis até o som de seu peito tentando explodir, sessa tentando planejar alguma desculpa enquanto se dirigia até a porta. Para na frente dela e abre bem devagar, um olhar rapido entre a porta aberta revela quem era a pessoa que batia aquela hora, abrindo a porta por completo e sem se preocupar com o corpo de seu marido estirado no chão.
Uma voz rouca e alta sem se preocupar com o horario e o acontecido, pergunta a ela:
- Está feito?
- Claro, disse que ia fazer antes da meia-noite - disse bem rápido e baixo com a voz melancólica e meia sofrida.
- Pare com isso. Sei bem que está muito contente por ter feito isso, então vamos, me mostre a porta dos fundos. - se dirigia para o corpo frio e manchado de sangue.
Com o corpo dentro de um saco negro, próximo a porta que dava para o jardim tão grande quanto a casa, foi sendo arrastado até um beco escuro, que a única luz eram os faróis de uma camionete, jogou o corpo na camionete como se fosse um simples saco de lixo.
Dentro da casa, a mulher que acabara de assassinar o próprio marido por uma discussão que ela mesma criou para ter um motivo para retalhar a garganta dele sem um pingo de pena, estava colocando um tapete bem pesado na mancha de sangue que já estava negra, vendo a camionete se distanciando pelo portão enferrujado e sorrindo como nunca sorriu antes.
Após um mês, livre de culpa e sem nenhum indicio que Carlos foi morto na sala onde agora não tem nenhum tapete e nenhum piso de madeira, sua vida está perfeita.
Carlos era um grande investidor que tinha uma grande fortuna e nenhuma família, foi casado por dois meses com Simone, uma garota de passado desconhecido, foi dado por desaparecido já a um mês, seu corpo foi encontrado em um rio perto da mansão onde morava com vestigios de que o corpo fora mutilado pelas piranhas, só foi possivel reconhece-lo pela arcada dentária.
- É tudo?
- Sim. Não temos mais indicios de que fora a mulher dele.

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